PAA

Afeto demonstrado através do cuidado

Programa de Apadrinhamento Afetivo leva carinho às crianças que não possuem vínculo familiar

Por: Victor Costa

Fotos: Gustavo Mansur 

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A falta de uma referência familiar é a realidade de 74 crianças de zero a 17 anos, que vivem em abrigos e orfanatos de Pelotas. Estas crianças e adolescentes que não possuem vínculo com a família podem encontrar no Programa de Apadrinhamento Afetivo (PAA), desenvolvido desde 2000, pessoas que, além de demonstrar carinho, façam orientações para seus futuros pessoais. Apesar de ser diferente de uma adoção, a relação dos "dindos" com os afilhados serve como auxílio na formação educacional, profissional e social dos jovens de sete a 17 anos. As inscrições para a 16ª edição do PAA encerraram-se no dia 8, com cerca de 25 candidatos. Após dois meses de oficinas, visitas e entrevistas, ocorrerá o encontro entre as crianças e seus futuros padrinhos.

A ideia dos responsáveis pelo PAA é fazer com que os encontros comecem no período das férias de inverno, possibilitando um maior tempo destinado ao convívio. Enquanto as outras etapas do processo estarão em andamento, tanto os candidatos como as crianças são orientados sobre os procedimentos que virão a acontecer. Segundo a responsável pelo setor de abrigos da Secretaria de Justiça Social e Segurança, Ângela Mota, as oficinas consistem em palestras sobre Vínculo e Apego, Devolução e Diferença entre Apadrinhamento e Adoção. A intenção é evitar uma ilusão que pode ser causada nas crianças em relação à adoção. Após a definição dos padrinhos, que anteriormente era realizada por perfil e, recentemente, passou a ser por aproximação, as crianças começam a passar curtos períodos com os adultos.

Juliano Nunes trabalha no Lar Aquarela. Ele afirma que existe uma mudança de comportamento nas crianças quando retornam das visitas às famílias. "A gente observa que eles ficam mais autoconfiantes, além de adquirirem conhecimento. O emocional melhora, já que eles podem se abrir com essas pessoas que viram uma referência para eles", diz. Segundo ele, o tempo que o padrinho tem que dispor é de no mínimo um encontro a cada 15 dias.

A vivência de uma madrinha afetiva
Madrinha há dois anos e meio de Michele, 13, Andrea Silveira resolveu entrar, junto com o marido, no PAA para tentar contribuir com a formação de alguém que precisa. "Estas crianças estão aí pelo mundo. Nós queremos ajudar elas a darem certo na vida, já que, infelizmente, estão propensas a dar errado", afirma. Atualmente, Andrea se prepara para a chegada da filha Helena, que deve nascer nos próximos dias. "Já conversei com ela que a rotina vai mudar um pouco, mas a nossa relação vai seguir a mesma. Além disso, ela sempre soube qual é o meu papel na vida dela". Segundo ela, a experiência adquirida através do convívio com Michele, e com a enteada Manuela, 11, despertou sentimentos maternos que ela sequer imaginava ter.

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Afeto levou à adoção
A última semana com certeza marcou a vida da menina Natiele. Ela completou 11 anos dia 5, mas os maiores presentes que ganhou vieram um dia depois: um lar e uma família. Em audiência judicial, Patrícia e Márcio Camargo, que haviam apadrinhado Natiele na última edição do PAA, receberam a guarda provisória da menina em determinação da Vara da Infância e Juventude. A relação que começou em agosto do ano passado evoluiu rapidamente e se intensificou nas férias de verão, quando viajaram para a praia.

Patrícia conta que ela e o marido não conheciam como funcionava o PAA, mas estavam abertos para o que viesse a acontecer. Não sabiam, inclusive, que era possível adotar através do apadrinhamento. Após passar por todas as etapas, acabaram conhecendo Natiele. "Na verdade foi ela que nos escolheu. Queríamos apenas que fosse uma menina e ela pedia uma família que tivesse crianças", relata. Após ter a solicitação aceita, ela passou a conviver com os filhos do casal: Rafaela, 19, Felipe, 16, e Débora, 12. E é com Débora que Natiele compartilha o quarto e as roupas. Segundo Patrícia, elas se consideram melhores amigas e estudam na mesma escola, apesar de ser em turnos diferentes. De acordo com a irmã mais velha, Rafaela, Nati, como é chamada, já se enturmou com os amigos do Grupo Jovem da Paróquia do Porto, que fazem jantas e programas juntos.

Natiele viveu em abrigos durante quatro anos e meio. Dois deles no Lar Aquarela, onde morava com mais três irmãos. Uma das irmãs também foi apadrinhada no ano passado, mas os "dindos" mudaram-se de cidade e o processo teve que ser interrompido. Quando pode, Natiele visita-os no abrigo, mantendo o vínculo com sua primeira família. A mãe que, por costume, ainda é chamada de "dinda", é só elogios à nova filha. "Ela é supercomportada em todos os lugares, educada com todo mundo e, com o passar do tempo, começou a ter opinião própria", diz.

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